Ergonomia pode ser definida como o estudo científico das relações entre homem e máquina, visando a uma segurança e eficiência ideais no modo como um e outra interagem. Ótima definição! Porém, uma premissa dessa ciência é a adaptação do trabalho ao homem. O que pretendo abordar aqui, em poucas palavras é justamente o contrário: adaptação do homem ao trabalho.
Em um mundo de pessoas cada vez mais sedentárias e obesas, onde a falta de atividade física leva à instalação de diversas doenças no organismo, é imprescindível que se traga segurança para um corpo que, aos poucos, se adapta mais e mais à falta de movimento (não sem sofrer o ônus disso!). O grande problema é que, a ergonomia, como é pensada atualmente, prioriza totalmente a falta de movimento. Ou seja: tenta-se estabelecer postos de trabalho ou desenvolver atividades onde haja pouco ou quase nenhum movimento ou esforço corporal.
É certo que a ergonomia também prima pelo conforto, segurança e desempenho nas atividades laborativas, mas é melhor ter esses itens com mais movimento – ou com movimentos naturais – e manter a saúde fisiológica do corpo humano através de sua característica natural ou é melhor suprir esse movimento em detrimento de uma falta de preparação desse corpo e fazer com que ele seja, cada vez mais, “parado”?
O problema maior não é a atividade laboral em si, o problema maior é a falta de preparo das pessoas para as funções de trabalho. Em vez de preparar os corpos para o trabalho, o que geraria infinitamente menos lesões, prepara-se o trabalho para os corpos (de acordo com a Norma Regulamentadora 17), o que vai continuar causando lesões, dado o alto nível de sedentarismo da população. Por menos movimento e/ou esforço que o trabalho exija, ainda assim as lesões irão aparecer.
É preciso, então, mudar o foco do escopo dessa ciência e passar a priorizar o material humano, deixando-o mais e melhor preparado para o trabalho. Em uma sociedade onde se preconiza a atividade física no dia a dia como fator primordial para se ter mais qualidade de vida, parece um contra senso suprimir o movimento corporal no trabalho, não?