O Rio de Janeiro hospedou, mais uma vez, um grande evento esportivo. O 5º Jogos Mundiais Militares, realizado entre os dias 16 e 24 de julho de 2011, foram apenas mais um dentre os tantos que acontecerão nos próximos anos, com destaque para a Copa das Confederações em 2013, Copa do Mundo de Futebol em 2014, Paraolimpíadas e Olimpíadas de 2016. A cada evento que se realiza, questiona-se o que ele deixa para a população da região onde foi realizado. Sim, porque de nada adianta construir espaços físicos monumentais, fazer das cidades verdadeiros canteiros de obra para melhorar sua infra-estrutura se as pessoas não puderem usufruir dessas melhorias.
À época do Pan-Americano, as obras foram duramente criticadas por suspeitas de superfaturamento e os super-estádios que foram construídos permaneceram por tempos abandonados. É inadmissível que se gaste tanto dinheiro público – o dinheiro é do povo – e o povo não possa usufruir desses benefícios. Para o transporte terrestre das delegações foram pintadas faixas exclusivas para os ônibus que as transportavam e a população carioca continuou enfrentando os engarrafamentos diários. Em eventos desse porte, há que se planejar, principalmente, o legado material para a população, pois o legado imaterial é inegável: a exposição mundial do país e de suas potencialidades, gerando novos investimentos e parcerias comerciais.
Mas, e o legado dos Jogos Mundiais Militares?
O presidente da Comissão Esportiva Militar do Brasil, vice-almirante Bernardo José Pierantoni Gambôa declarou, junto à Câmara dos Deputados em Brasília, que a infra-estrutura para os Jogos Olímpicos de 2016 foi melhorada – esse o legado material, aguardemos para ver o que será aproveitado daqui a 5 anos – e além disso, as Forças Armadas querem dar ênfase ao treinamento físico como ferramenta de desenvolvimento esportivo e de inclusão social – excelente inciativa! – principalmente através do atendimento a milhares de crianças e jovens nos programas Segundo Tempo e Mais Educação do Governo Federal, utilizando o esporte como instrumento de integração social.
“Nosso objetivo é utilizar a capilaridade militar nas atividades sócio-esportivas, promovendo a melhoria da qualidade de vida; a prevenção da violência e da marginalidade; a descoberta de novos talentos e a valorização da cidadania, com consequente fortalecimento da soberania”, destacou o coordenador Geral do Comitê Local dos 5JMM, general de brigada, Jamil Megid Junior.
Esse também é um legado que tem seu valor, mas será que houve planejamento de como isso será mensurado? Será que realmente as crianças e jovens que participam desses programas estão se afastando da marginalidade e se desenvolvendo mais através do esporte? Quais os indicadores para isso?
Além da exposição do país, no caso dos Jogos Militares, a demonstração do poderio militar brasileiro através do esporte fica evidente em uma competição desse porte. Depois do 36º lugar em 1995, 22º lugar em 1999, 15º lugar em 2003 e 33º lugar em 2007, o Brasil terminou a competição de 2011 em 1º lugar no quadro de medalhas, conquistando 114 medalhas (45 de ouro, 33 de prata e 36 de bronze). Do ponto de vista do esporte, o Brasil consolida, cada vez mais, sua posição como potência esportiva mundial. Do ponto de vista militar, o Brasil destaca-se no cenário mundial e isso pode fortalecer suas pretensões de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mesmo com uma “tropa de aluguel”, o Brasil se destacou em diversas modalidades e o trabalho daqui pra frente deve ser o de capacitar os militares da ativa para atuarem nas próximas competições.
Fica, então, mais um aprendizado para o governo brasileiro: a exposição do país para captar investimentos e parcerias enquanto se deixa o povo relegado a segundo plano – a população também pouco participou como espectadora das competições, muito por causa da pouca divulgação de massa acerca dos jogos – é, no mínimo, uma falta de respeito com aqueles que têm o poder de voto e de mudar a história de uma nação. Além disso, há que se analisar profundamente tudo o que aconteceu nessa competição para preparar o terreno para os eventos futuros.
Se você é um cidadão consciente, fique de olho!