Caríssimos profissionais da área médica,

Após aprovação da chamada ‘Lei do ato medico’, gostaria que respondessem como profissionais da área médica iriam lidar com a seguinte situação:

Fui procurado por uma cliente de uma das academias em que trabalho que tinha a intenção de iniciar um programa sistematizado de atividades física junto a um treinador personalizado que comumente é chamado de personal trainer, a fim de iniciar um processo de emagrecimento, bem como alívio para uma série de sintomas que vinha tendo em decorrência de problemas de saúde.

Ao realizar a avaliação funcional da cliente para se detectar seu grau inicial de aptidão física através de diversos testes físicos, bem como investigar fatores limitantes da prática da atividade física através de uma anamnese detalhada, foi detectado o seguinte quadro:

Indivíduo do sexo feminino, 45 anos, hipertensa (de acordo com diagnóstico prévio de profissional da área médica), obesa (IMC = 37,9), com quadro avançado de osteoporose na região da coluna vertebral (L5/S1, também de acordo com laudo médico), totalmente histerectomizada, em uso de medicação anti-hipertensiva e beta-bloqueadora, além de anfetaminas para acelerar o processo de emagrecimento – todos os medicamentos receitados por profissional da área médica – há 25 anos sem realizar nenhum tipo de atividade física sistematizada, atividade laboral (bancária) e lazer sedentários.

Medicina e Educação Física podem e devem andar juntas

O que fazer?

Devo dizer a ela que não deve realizar nenhum tipo de atividade física? Ou orientar que ela se matricule em aulas de hidroginástica? Será que a hidroginástica irá fazer com que a cliente atinja seus objetivos? O que devo levar em conta em tal atividade? Que particularidades do meio líquido devo levar em conta considerando suas condições patológicas? Se o osso se desenvolve pelo impacto exercido pelo músculo quando submetido a alguma resistência, tal atividade seria ideal para seu quadro de osteoporose?

Poderíamos indicar um treinamento contra-resistência para estimular sua massa óssea e reduzir o avanço daquela patologia? Em qual intensidade? Qual o percentual da carga máxima que devo utilizar? Posso fazer um teste de carga máxima com essa cliente? E com relação a sua condição de cardíaca e hipertensa? O que devo levar em conta para a prescrição do treinamento contra-resistência? Prescrevo apenas um treinamento leve? O que é um treinamento leve?

Para auxiliar no processo de emagrecimento, além de indicar um(a) nutricionista poderia realizar alguma atividade aeróbia? Qual? Corrida ou caminhada em esteira? Bicicleta ergométrica? Body combat, Step, Jump, Aero Box ou uma outra? Em qual percentual do VO2máx ou da frequência cardíaca máxima? O uso de beta-bloqueadores influi na prescrição de tal atividade?

Qual será a influência das anfetaminas no treinamento, qualquer que seja ele?

A condição de histerectomizada facilita ou dificulta o processo de emagrecimento?

Somente após estudar os mecanismos da fisiologia do exercício físico no organismo normal e patológico poder-se-ia trabalhar com uma pessoa com um quadro tão complexo e que é mais comum do que se imagina.

A tentativa de se aprovar o ato médico traz para a sociedade um perigo eminente: o de se colocar pessoas despreparadas para exercerem funções que já são desempenhadas por profissionais da área de Educação Física. Qualquer curso de capacitação desses outros profissionais não acumularia o conhecimento adquirido em 4 anos de estudos sobre temas tão especificamente relacionados ao exercício na saúde e na doença.

A solução pode estar justamente em formar uma equipe multi-disciplinar para tratar quadros como esses e tantos outros que aparecem no dia a dia de uma academia de ginástica.